Semana passada reouvi esse disco. Tive a mesmíssima reação de 23 anos atrás.
Não tem nem o que discutir: pode espernear, fazer o tradicional ‘mimimi’ de ‘metaleiro troo’, ofender, boicotar, fazer o diabo… É um desperdício de energia e um atestado de cretinice negar a importância desse álbum não apenas para a carreira do Sepultura e para o heavy metal nacional, mas para a história da música mundial. Mesmo nos dias de hoje.
Sim, é isso mesmo. Não é exagero da minha parte. Basta você verificar o quanto Roots se tornou a ‘porta de entrada’ para o universo do metal para uma molecada em TODOS os países, meninos e meninas que ainda não haviam tido contato prévio com qualquer sonoridade mais pesada. Até mesmo para artistas de outros gêneros que nunca haviam prestado atenção a qualquer coisa mais densa que não fosse o “álbum preto” do Metallica. Durante os meus tempos de editor e diretor de Redação de revistas voltadas a públicos instrumentistas, cansei de entrevistar gente famosa do mundo do pop, do jazz e do que mais você imaginar que fazia questão de citar Roots como uma obra prima, mesmo que eu não fizesse qualquer pergunta a respeito.
Roots é mesmo um álbum diferenciado, mesmo que não o considere como o meu favorito dentro da discografia da banda – Chaos A.D. ainda é imbatível -, mas como há muito tempo eu consegui aprender a ter o distanciamento necessário para ouvir um disco sem compará-lo com os anteriores, consigo facilmente curtir o Roots como se deve: sem preconceito. E sem levar em conta o sucesso internacional que Max Cavalera, Andreas Kisser, Igor Cavalera e Paulo Xisto já desfrutavam naquela época.
Os temas espalhados pelas canções são assombrosamente atuais e diversificadas. Críticas ao regime militar (“Dictatorshit”) e à escravidão (“Roots Bloody Roots”), recado cifrado contra a antiga gravadora, a Roadrunner (“Cut-Throat”), e mais um monte de outras mensagens, todas endereçadas com raiva e um espantoso vigor na hora de usar sonoridades tipicamente brasileiras, principalmente em termos rítmicos, já que nas guitarras imperava aquela “disgracêra” espetacular, com riffs mastodônticos de Max Cavalera e Andreas Kisser tocados em afinações mais baixas que o normal para realçar a violência da bateria de Igor Cavalera.
Você provavelmente deve ter lido outros textos por aí exaltando/criticando a presença de convidados – Mike Patton (Faith No More), Jonathan Davis (Korn), Carlinhos Brown e outros – e a produção (primorosa, diga-se de passagem) de Ross Robinson, os detalhes de cada faixa e o escambau. De minha parte, tudo o que tenho a dizer é que você vai encontrar em Roots artigos raríssimos no heavy metal que se faz hoje em dia: inteligência, criatividade, ousadia, experimentação e, acima de tudo, a ausência de preconceito.
Parece incrível que, mesmo decorridos tanto tempo de seu lançamento original em 1996, este álbum ainda tenha muito a ensinar a pessoas que acreditam que heavy metal é trilha sonora para beber cerveja quente em copos de plástico…
https://youtube.com/watch?v=v2f8kd1d278




Respostas de 15
Não sou um grande fã do Sepultura, mas é inegável que Roots é um clássico absoluto. Belo texto, abração Régis.
Particularmente não gosto muito do Roots mas é inegável para a banda a repercussão mundial do mesmo e a quebra de alguns paradigmas no metal nacional.
E Chaos AD pra mim é imbatível.
Abraço
Já parei para imaginar ONDE esses caras poderiam ter chegado tivessem segurado a barra, mantido a cabeça no lugar e Max tivesse ficado na banda.
Realmente…mas infelizmente não o souberam fazer.
Verdade. Não que o Soulfly e os demais projetos que o Max fez depois sejam ruins. Ou que o Sepultura não tenha lançado bons trabalhos com o Derrick Grenn. Pessoalmente, não curto muito os vocais dele, embora reconheça que ele seja bom de palco. Mas os caras tinham TUDO para chegar a uma posição MUITO alta no cenário metal. Não digo que chegariam a ser um Metallica, porque ninguém conseguiu isso, mas a identidade “exótica” que eles tinham com esse trabalho poderia tê-los colocado no mainstream. Conseguir ultrapassar internacionalmente a mesma barreira que ultrapassaram aqui no Brasil uma certa época, em que uma galera que nem gostava de metal começou a ouvir Sepultura porque era a banda brasileira que fazia sucesso na gringa.
Roots foi o ápice da originalidade do Sepultura. Gostar ou não são outros quinhentos. Álbum influente, para o bem e para o mal.
Boa tarde, Régis,
Artigo fino, esse disco. Lembro que estava nos EUA quando vi uma entrevista do Dave Grohl num talk show). Quando perguntado sobre que sons ouvia no momento, citou o Sepultura. O link: https://www.youtube.com/watch?v=4prPY4OgOgE
Abraço
Durante muito tempo desci a lenha do disco por causa dos elementos “folclóricos” mas outro dia acho que depois de ver o Regis falar sobre esse disco fui ouvir no youtube music play e é um disco foda mesmo.
Eu tenho certeza que se eles tivessem continuado haveria um Big 5, não um Big 4. A participação deles em uma celebração dessas seria obrigatória, a química e a criatividade da formação clássica fazia a banda ser muito acima da média.
Confesso sempre ter ignorado este disco, mas vou dar uma chance.
Quanto ao meu disco favorito da banda, é um empate entre Arise e Beneath the Remains.
Eu até que curto o Roots mas o Chaos A.D. é infinitamente melhor, pelo menos na minha opinião.
Ótimo texto, Régis. Roots está no meu top Ten do Metal. Fui nessa turnê e os caras estavam supremos em cima do palco, na época. Nem o O Slayer estava batendo. Uma pena o que houve depois. Penso que os dois lados perderam, apesar dos bons discos lançados pós separação.
Obrigado, Rafael.
O Sepultura do Against para cá se tornou um projeto(medíocre diga-se de passagem) do patife do Andreas Kisser. Podem me chamar do que quiser, mas o Sepultura sem o Max não dá! E não podemos simplesmente culpar o Derrick Green por tantos discos fracos. A culpa é do Andreas que é o principal compositor da banda, somado ao fato de que o Paulo Xisto sempre foi o eterno nada na banda, ele simplesmente era o sujeito certo no lugar certo na hora certa e teve sorte de fazer parte de uma banda cujo os integrantes sempre foram bem despojados e não primavam tanto pela técnica. Se o Paulo tivesse sido membro do Death do saudoso Chuck Schuldiner ele não teria nem passado dos ensaios visto que o Chuck era um música que primava pela técnica e talento. Fazer até uma brincadeira aqui, se duvidar até o Sid Vicious tocava mais que o Paulo.
Acho injusto o fato de nunca terem valorizado o Jairo Guedez na banda no EP Bestial Devastation e o LP Morbid Visions. Por mais tosca que a banda fosse naqueles tempos, pelo menos ela soava verdadeira, extremamente pesada e bem mais interessante. Fico pensando como teria sido o destino da banda caso o Andreas não tivesse entrado para a banda e no seu lugar tivesse entrado alguém que gostasse de fato de death metal como o Jairo gostava.