Por conta da quase total atenção dispensada aos assuntos do Carnaval, pouca gente que escreve e fala a respeito de música vai procurar oferecer a você dicas a respeito de ótimos sons que precisam ser redescobertos em tempos de total descartabilidade musical. É por isso que vou passar a semana toda que antecede a esse evento cada vez mais grotesco e ridículo oferecendo preciosas informações para o seu corpo e sua alma.
Vou começar com um cantor extraordinário que morreu aos 70 anos de idade, mas a impressão que eu tinha era que ele caminhava pela Terra desde o Período Cretáceo, distribuindo canções maravilhosas pelo planeta e exibindo uma das vozes mais espetaculares da história da música em todos os tempos. Seu nome era Bobby Womack.
A partir do momento em que ele surgiu no mundo abrindo a boca para cantar, colocou todo mundo de queixo caído, inclusive o lendário Sam Cooke, que ficou imediatamente apaixonado pela voz do jovem Bobby e se tornou uma espécie de “mentor” do garoto.
Junto com os irmãos, Bobby montou um grupo que mais tarde veio a se chamar The Valentinos. Foi quando compôs uma ótima canção, “It’s All Over Now”, que veio a ser imortalizada por um bando de ingleses branquelos e magricelas chamado Rolling Stones. Vai saber o que teria acontecido com Mick Jagger e companhia caso não tivessem gravado essa música:
Quando The Valentinos acabou, traumatizado pelo assassinato de Cooke em dezembro de 1964, Womack quase se perdeu artisticamente. Depois de passar um bom par de anos tocando guitarra – e bem! – em um monte de discos de artistas tão díspares quanto Aretha Franklin, Janis Joplin, Joe Tex e o pessoal do The Box Tops, Womack foi convencido a fazer uma carreira solo em 1968. Foi então que passou a gravar um álbum espetacular atrás do outro, como as duas obras primas que gravou em 1972, Understanding e Across 110th Street:
Womack era muito mais que apenas uma voz maravilhosa. Era um sujeito marcado por inúmeras tragédias. Perdeu dois filhos, sendo um por suicídio, e sua ex-mulher – a própria viúva de Cooke, com quem se casou em inacreditáveis três meses após a morte do cara – tentou matá-lo na base de balas de revólver quando suspeitou que ele estivesse transando com a enteada. Só que o cantor usou isso para forjar algumas das canções mais doloridas da soul music.
Depois que seu irmão Harry morreu em 1974, Womack se afundou nas drogas pesadas e se transformou em tremendo “bad motherfucker”, de quem até o doidaço Sly Stone tinha medo. Tantos excessos cobraram seu preço: Womack teve um monte de doenças, teve que ser internado em clínicas de desintoxicação várias vezes… Estava acabado para a música até que Damon Albarn o tirou do limbo onde já chafurdaram inúmeras lendas da soul music. Produziu um disco maravilhoso para ele em 2012, The Bravest Man in the Universe, e lhe deu ânimo para continuar, a ponto de ter planejado um álbum com vários convidados bacanas, como Stevie Wonder, Rod Stewart e Snoop Dogg. Não teve tempo. A morte veio cobrar a conta do veterano soul man em junho de 2014.
Siga o roteiro do que postei. Você só tem a ganhar…




Respostas de 5
Bobby foi uma lenda! É uma pena que pra nós, colecionadores, seus discos sejam difíceis (e caros) de encontrar! Baita dica, Régis! Abração.
Bela matéria valeu sempre acompanhei as músicas de Bobby abraço
Régis, sempre aprendo com você.
Agradecida pela dica, adoro esses ‘garimpos’.
Valeu!
Sua voz inesquecível uma lenda
E uma perda para mundo da música
Sua música que ele cantava falando
Factor of life
Ele diz o que pensa memorável canção! !